sexta-feira, 23 de setembro de 2005

Voragem

do Lat. voragine
s. f.,
aquilo que sorve ou devora;
sorvedouro;
redemoinho;
abismo;
fig.,
tudo o que consome ou subverte.


A história contida no livro de Junichiro Tanizaki faz jus ao nome da obra.
Envolvente e surpreendente, o livro narra uma tragédia romântica com todos os elementos que lhes são pertinentes: paixão, ciúmes, mentiras, intrigas, traição e morte, e a sensação é de que o leitor está realmente sendo devorado junto com os personagens pelo enredo muito bem conduzido pelo narrador-personagem.
Casada com Eijiro Kakiuchi, Sonoko deslumbra-se com a beleza de uma jovem estudante da mesma escola de arte que freqüenta, Mitsuko. Ao retratar em um de seus quadros a beleza que a fascinara, Sonoko acaba sendo alvo de fofocas e a história chega aos ouvidos de Mitsuko.
Extremamente envergonhada Sonoko passa a evita-la até mesmo ao transitar pelos corredores, mas, com um simples sorriso, Mitsuko quebra o gelo e permite a aproximação de Sonoko. A amizade tornou-se evidente logo na primeira conversa e ficou acordado entre elas que não apenas ignorassem, mas que também alimentassem essa rede de intrigas, pois Mitsuko era contra o casamento arranjado por seus pais e via nessa história uma boa forma de afugentar seu pretendente.
Tudo era muito divertido para as duas que passaram a se encontrar todos os dias, muitas vezes na casa da Sra. Kakiuchi, utilizando seu quarto íntimo como ateliê com a desculpa de estar pintando o tal quadro. Notando que o quadro nunca fica pronto o Sr. Kakiuchi começa a demonstrar seu incômodo com a intimidade que se formara entre as duas e passa a dificultar seus encontros.
Sonoko inconformada com as objeções de seu marido arranja situações propícias ao contato íntimo com a amiga e se descobre apaixonada por Mitsuko.
Mitsuko por sua vez apresenta atitudes cada vez mais suspeitas e acaba por revelar um amante chantagista que assume o papel de vilão, articulador, mas que na verdade é só mais um boneco nas mãos da bela manipuladora.
Consolidada como crueldade, a sedutora Mitsuko avança sobre o próprio Eijiro, aprisionando uma Sonoko cada vez mais apaixonada.
Com a ajuda do Sr. Kakiuchi, Mitsuko e Sonoko conseguem escapar das chantagens de Watanuki, o amante que utiliza-se das mais diversas artimanhas ao perceber que seria trocado, a princípio, por Sonoko.
Formando um triângulo bastante peculiar, Sonoko, Mitsuko e Eijiro corrompem e se deixam corromper. Obedientes à lógica da perversão mergulham num abismo onde o amor próprio é anulado e substituído pelo amor a Mitsuko que consome toda a vivacidade dos dois, até que só haja torpor.
Escravos do ciúme e da desconfiança, o Sr. e a Sra. Kakiuchi disputam cada segundo de atenção de Mitsuko e regalavam-se ao deixarem-se comsumir, a pesar de saberem que suas vidas foram reduzidas a venerá-la e que a morte está mais próxima a cada dia, pois seus corpos já encontram-se completamente debilitados por causa dos soníferos diários ingeridos por exigência de Mitsuko sob alegação de não poderem viver mais como um casal.
Com toda a história evidenciada nos jornais, segundo suspeitas por Watanuki, a única saída que os três encontraram foi a morte. Mas após tomarem as poções preparadas por Mitsuko, apenas Sonoko acordou, concretizando a tão temida traição e podendo então narrar toda história.

“Quando penso em Mitsuko, não é ódio ou ressentimento o que sinto, mas saudade, tanta, tanta...”.

2 comentários:

Anônimo disse...

história pra ninguém botar defeiro, completinha, né?!
muito foda..

Anônimo disse...

Poxa, o texto tá muito bom.

O blog tá fazendo bem à sua capacidade de escrever.